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2.2 - A organização da informação financeira para o controlo de gestão 2.2.1 - A contabilidade de gestão A contabilidade analÃtica ou de gestão tem por objectivo a disponibilização de informação relativa a gastos, rendimentos e resultados, não de uma forma global como sucede com a contabilidade financeira, mas a nÃveis mais desagregados, por forma a satisfazer as necessidades de informação de cada gestor. A informação disponibilizada será relativa a determinados segmentos da organização, como: produtos, mercados, clientes, actividades, negócios, centros de responsabilidade, entre outros (Rodrigues e Simões, 2008). O sistema de informação da contabilidade de gestão deve fundamentar-se nas necessidades de informação dos gestores, no entanto, será também responsável pelo apuramento dos gastos dos produtos produzidos (empresas industriais), tarefa esta que se irá reflectir na avaliação de inventários que irão constar no Balanço da organização. Segundo Rodrigues, J.A. e Simões, A. (2008), os objectivos da Contabilidade de Gestão podem ser sintetizados em:
Para que estes objectivos possam ser alcançados, o sistema de informação contabilÃstica da contabilidade de gestão, necessitará de várias fases de preparação e execução:
2.2.2 - Objectos de Valor - Segmentos Tradicionalmente, nas empresas de carácter industrial, a afectação de gastos tinha como objectivo principal o apuramento do custo dos produtos. Os objectos de custeio eram assim centrados na afectação de custos (centros de custo) a produtos, processos de fabrico e secções de produção (Rodrigues e Simões, 2008). Actualmente, os objectos de valor deixaram de se focar nos produtos ou centros de custo, passando a orientar-se numa óptica de mercado, numa perspectiva multidimensional, que possibilite analisar o negócio simultaneamente sob diversas perspectivas de segmentação: mercados, canais de distribuição, clientes, tipo de produtos ou serviços, de forma a conhecer as suas fontes geradoras ou destruidoras de valor. Esta mudança decorre da necessidade, por parte dos gestores, de acompanhar o negócio nas suas múltiplas vertentes, identificando os factores geradores de valor acrescentado e transmitir informação aos seus múltiplos stakeholders (Rodrigues e Simões, 2008). Com a evolução verificada, os objectos de valor passaram a denominar-se segmentos. Os segmentos definem-se assim como centros de análise de valor, com relevância para um acompanhamento continuado, em termos económicos e financeiros. Segundo Rodrigues, J.A. e Simões, A. (2008) de acordo com a sua forma e definição, os segmentos podem ser considerados:
"O Segmento pode então ser entendido como qualquer parte de uma empresa, ou grupo de empresas, sobre a qual se considera relevante o conhecimento de informação económica e financeira, ou seja, a identificação de gastos, resultados e do capital que irá requerer na sua normal exploração (activo económico). São exemplos de segmentos:
Para que seja possÃvel conhecer o desempenho financeiro por segmentos, será necessário orientar a contabilidade de gestão para este objectivo. A rendibilidade de clientes, o valor gerado por um projecto, por um canal de distribuição, ou a contribuição de um centro de responsabilidade, devem então constituir as preocupações fundamentais da contabilidade de gestão, que será obrigada à definição de um modelo mais exigente e abrangente em termos de recolha, tratamento e divulgação de informação. Os modelos tradicionais de contabilidade de gestão têm-se revelado mais orientados para o apuramento de gastos, principalmente, numa lógica interna e não numa lógica externa, de mercado. Conhecer o valor gerado por cada um dos segmentos da organização, contribuirá, certamente, para uma gestão mais eficiente, dotando os gestores de maior segurança nas suas decisões (Jordan et al., 2007). A escolha dos segmentos a adoptar deve reflectir as opções estratégicas da empresa (segmentação de produtos, clientes, mercados, estrutura organizativa, entre outros), assim como, o poder de decisão do gestor em influenciar o curso das acções dos segmentos (Jordan et al., 2007). 2.2.3 - Modelos de Apuramento de Resultados Os modelos de afectação de gastos e resultados resultam das opções adoptadas relativamente à distribuição (ou não) de gastos indirectos e à integração (ou não) do custo do capital próprio nos resultados (Rodrigues e Simões, 2008). Gastos directos consideram-se aqueles que podem fácil e objectivamente ser afectados a determinado objecto de valor, identificando-se com elevado grau de precisão o nÃvel de utilização ou consumo do recurso na base do gasto em causa (Rodrigues e Simões, 2008). Segundo Rodrigues e Simões (2008), existem dois grandes modelos de apuramento de resultados por segmento:
"Se existem gastos, alguém tem de os pagar", é a lógica subjacente ao modelo de absorção, onde o objectivo seria o de incorporar todos os gastos no produto. Esta visão, estaria de certa forma ajustada numa economia de produção onde o "produtor manda", porém, com o mercado a definir os preços a praticar e com uma elevada competitividade pelo preço, deixou de fazer sentido acumular os gastos nos produtos, uma vez que, o seu pricing não vem do seu gasto, mas sim das leis do mercado. O gasto do produto é mais uma consequência da forma como cada empresa se organiza e trabalha. O focus da informação económico-financeira está então no mercado, de forma a conhecer as suas verdadeiras fontes geradoras de valor (Rodrigues e Simões, 2008). Os resultados apurados pelo modelo de absorção são mais uma consequência dos critérios utilizados para repartição dos gastos, do que da verdadeira contribuição de cada segmento. Os segmentos que utilizarem de forma mais intensiva a base de imputação utilizada serão os afectados com o maior volume de gastos comuns. Podemos considerar a informação resultante como informação para indecisão (Rodrigues e Simões, 2008). O modelo de absorção, para além de implicar a absorção da totalidade dos gastos pelos segmentos, tenderá ainda a ignorar o capital empregue nos segmentos. Para uma correcta avaliação da rentabilidade dos segmentos, não poderá ser ignorado o valor do capital utilizado, ou seja, o valor dos activos económicos relacionados com o segmento. A forma mais correcta de o fazer será inscrevendo os encargos resultantes da aplicação de capital nos activos económicos, como gastos do segmento. Os encargos da aplicação de capital são valorizados através do custo de capital para a organização, obtido através do cálculo da média ponderada dos custos dos capitais alheios e dos custos dos capitais próprios. Não sendo o custo do capital próprio reconhecido pela contabilidade financeira, os "resultados" dos segmentos apurados desta forma não serão compatÃveis com o resultado contabilÃstico da organização, mas sim com o correspondente resultado residual (Rodrigues e Simões, 2008). "Do cruzamento das opções quanto aos sistemas de custeio e à utilização (ou não) do conceito de "resultado" residual dos segmentos resultam três grandes ópticas de determinação dos gastos e, consequentemente, dos resultados:
(Rodrigues e Simões, 2008: 40). Poderemos concluir que, de entre três ópticas apresentadas, a óptica da contribuição será a mais válida para apresentar informação aos gestores, focando-se no apuramento do valor gerado por cada segmento, considerando apenas os gastos que lhe são próprios, possibilitando uma visão adequada do desempenho económico de cada segmento. "Em sÃntese, mais do que determinar o resultado por segmento, a organização dos resultados em torno da determinação das margens de contribuição (por segmento) tem como finalidade determinar os nÃveis de contribuição dos segmentos para os gastos comuns, ou seja, os que têm de ser suportados no exercÃcio de actividades de apoio a múltiplos segmentos (contabilidade, qualidade, recursos humanos, etc.) sem os quais seriam comprometidos os objectivos organizacionais e a continuidade da empresa." (Rodrigues e Simões, 2008: 41). A análise por segmentos utilizando a óptica da contribuição, implica que todos os factores relacionados com o segmento (por exemplo: projecto, mercado, canal de distribuição, gama de produtos) lhe sejam atribuÃdos económica e financeiramente, independentemente da função. De igual forma, os factores que não se relacionam com o segmento não lhe devem ser atribuÃdos, sob pena de se distorcer o conhecimento relativamente ao seu verdadeiro contributo para os resultados. Admite-se, assim, que os segmentos (Jordan et al., 2007):
A organização dos resultados em torno do apuramento das suas margens de contribuição, tem por objectivo conhecer os nÃveis de contribuição de cada segmento para os gastos que lhes são comuns, nomeadamente, os relativos a actividades de suporte que são utilizadas por múltiplos segmentos, interessando gerir e controlar e não distribuir esses gastos (Jordan et al., 2007). 2.2.4 - O Custo do Capital A operação em determinado segmento implica a realização de investimentos em activos não correntes e activos correntes (conceder crédito a clientes, constituir um certo nÃvel de existências, entre outros), os quais podem ser compensados pelos créditos obtidos de fornecedores (passivos correntes). Este investimento lÃquido afecto aos segmentos é denominado de Activo Económico ou Capital e leva a empresa a suportar um custo de capital, que aplicado ao investimento afecto ao segmento permitirá o apuramento do gasto financeiro directo (Rodrigues e Simões, 2008). De forma a cobrir as necessidades financeiras decorrentes do nÃvel de investimento em activos económicos, as entidades têm de recorrer a fontes de financiamento no mercado de capitais, que poderá ser suportada nos accionistas (capitais próprios) ou noutros financiadores (empréstimos bancários, empréstimos obrigacionistas, entre outros) comportando, cada um deles, um nÃvel de risco e de gastos. Os accionistas têm expectativas de rendibilidade para o seu capital face a opções alternativas (custo de oportunidade), enquanto os credores exigem um determinado nÃvel de remuneração que é o juro (Rodrigues e Simões, 2008). Factores que condicionam a Taxa de Custo de Capital (t%) O cálculo da taxa de custo de capital deverá assim ser efectuado com base no Balanço Económico previsional a ser elaborado para o efeito. A fórmula a aplicar será a seguinte:Em que e% identifica a expectativa de remuneração do accionista e i% a taxa a aplicar para o financiamento externo. |
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